Biografia


 
- 1842: Em Ponta Delgada, a 18 de Abril, nasce Antero Tarquínio de Quental. A 2 de Maio é batizado na Igreja Matriz de S. Sebastião de Ponta Delgada.

- 1847: Começa a aprender francês com António Feliciano de Castilho que vive nessa altura na capital açoriana.


- 1852: Em Agosto vem com sua mãe para Lisboa, matriculando-se no Colégio do Pórtico, do qual Castilho é diretor.

- 1853: Antero regressa a Ponta Delgada onde em 7 de Julho de 1855 concluirá a Instrução Primária. Em 20 de Outubro desse mesmo ano volta a Lisboa onde freqüenta o colégio Escola Acadêmica.

- 1856: Inscreve-se como aluno interno no Colégio de S. Bento, em Coimbra. Escreve os primeiros versos que lhe são conhecidos numa carta enviada a seu irmão André.

- 1858: Após algum tempo de estudo em Lisboa, com a ajuda de seu tio paterno Filipe de Quental, lente de Medicina, conclui os estudos preparatórios para o ingresso na Universidade de Coimbra, onde se matricula no 1º ano de Direito em 28 de Setembro, sendo admitido a 2 de Outubro.

- 1859: Em Abril é condenado pelo Conselho de Decanos a oito dias de prisão por, com outros estudantes, ter tomado parte num ato praxístico - armado de um cacete e com o rosto coberto, «dando grau a calouros e cortando-lhes o cabelo». Em 24 de Maio é aprovado no ato do 1º ano de Direito. Em Setembro matricula-se no 2º ano de Direito.

- 1860: Mora no Largo da Sé Velha, ficando também por vezes em casa de seu tio Filipe de Quental, na Travessa da Couraça. Em Janeiro publica nos Prelúdios Literários «Na Sentida Morte do Meu Condiscípulo Martinho José Raposo». Em Janeiro, Fevereiro, Novembro e Dezembro, também nos Prelúdios, publica «Leituras Populares». Em Março, com Alberto Sampaio, Alberto Teles e outros, dirige o jornal O Acadêmico - Publicação Mensal, Científica e Literária.

- 1861: Em Abril participa na fundação da Sociedade do Raio, uma sociedade secreta que se caracteriza por lançar desafios blasfemos a Deus durante a ocorrência de trovoadas. Em O Fósforo, publica um artigo sobre João de Deus: «A Propósito de um Poeta». Em Outubro matricula-se no 4º ano.

- 1862: Em 21 de Outubro saúda, em nome da Academia, o príncipe Humberto de Sabóia.

- 1863: Em 22 de Julho faz exame e passa para o 5º ano.

- 1864: Em 2 de Julho conclui o curso de Direito.

- 1866: Em Janeiro tenta alistar-se no exército de Garibaldi.

- 1867: Em 19 de Agosto embarca para Ponta Delgada.

- 1868: Em 31 de Outubro regressa a Lisboa.

- 1869: Em Julho embarca para os Estados Unidos.

- 1871: Em 22 de Maio as Conferências são inauguradas.

- 1874: Adoece gravemente em Ponta Delgada.

- 1876: Em Maio desloca-se a Ponta Delgada, regressando em Julho a Lisboa.

- 1877: No início de Julho faz uma viagem a Paris, onde consulta o Dr. Charcot.

- 1878: Entre Fevereiro e Junho hospeda-se em casa de Oliveira Martins, no Porto.

- 1880: Em fins de Maio, numa carta a Alberto Sampaio inclui o soneto «Estoicismo».

- 1882: Em Maio escreve os sonetos «Na Mão de Deus» e «Evolução»

. - 1883: Em Maio escreve o soneto «Voz Interior».

- 1884: No Palácio de Cristal, no Porto, encontra-se com Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão. Tiram a fotografia do «grupo dos cinco».

- 1885: Encontra-se Com Carolina Michaëlis.

- 1886: Perto do fim do ano recebe a primeira carta de Wilhelm Storck com sonetos seus traduzidos para o alemão.

- 1887: Em 8 de Maio desloca-se a Ponta Delgada.

- 1888: Pensa candidatar-se a uma cadeira da projetada Escola Normal Superior.

- 1889: Columbano pinta-lhe o retrato que se conserva no Museu do Chiado.

- 1890: Em 11 de Janeiro - Ultimato inglês.

- 1891: Jantar de despedida, oferecido pelos Vencidos da Vida no Tavares. Em 5 de Junho parte para Ponta Delgada. No dia 11 de Setembro compra um revólver e, às 20 horas, no lado norte do Campo de S. Francisco, suicida-se com dois tiros.



Poesias


IDÍLIO

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas.

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces.

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.




NOTURNO


Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento-
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!




VOZ INTERIOR
(a João de Deus)


Embebido n'um sonho doloroso,
Que atravessam fantásticos clarões,
Tropeçando n'um povo de visões,
Se agita meu pensar tumultuoso...

Com um bramir de mar tempestuoso
Que até aos céus arroja os seus cachões,
Através d'uma luz de exalações,
Rodeia-me o Universo monstruoso...

Um ai sem termo, um trágico gemido
Ecoa sem cessar ao meu ouvido,
Com horrível, monótono vaivém...

Só no meu coração, que sondo e meço,
Não sei que voz, que eu mesmo desconheço,
Em segredo protesta e afirma o Bem!




REDENÇÃO


I

Vozes do mar, das árvores, do vento!
Quando às vezes, n'um sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...

Verbo crepuscular e íntimo alento
Das cousas mudas; psalmo misterioso;
Não serás tu, queixume vaporoso,
O suspiro do mundo e o seu lamento?

Um espírito habita a imensidade:
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas.

E eu compreendo a vossa língua estranha,
Vozes do mar, da selva, da montanha...
Almas irmãs da minha, almas cativas!

II

Não choreis, ventos, árvores e mares,
Coro antigo de vozes rumorosas,
Das vozes primitivas, dolorosas
Como um pranto de larvas tumulares...

Da sombra das visões crepusculares
Rompendo, um dia, surgireis radiosas
D'esse sonho e essas ânsias afrontosas,
Que exprimem vossas queixas singulares...

Almas no limbo ainda da existência,
Acordareis um dia na Consciência,
E pairando, já puro pensamento,

Vereis as Formas, filhas da Ilusão,
Cair desfeitas, como um sonho vão...
E acabará por fim vosso tormento.



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Criado em 1º de Dezembro de 2009