Biografia


 
  • Maria Sabina de Albuquerque, nasceu em Barbacena (MG), no dia  6 de dezembro de 1898, e faleceu, em 17 de julho de 1991, no Rio de Janeiro.
  • Foi professora, poetisa, declamadora e feminista atuante.
  • Fundou, em 1921, no Rio de Janeiro, o Curso Olavo Bilac, de Arte de Dizer, que perdurou por quase setenta anos.
  • Doutora em Letras Inglesas pela Universidade de Cambridge. Lecionou francês, literatura universal, arte poética e oratória.
  • Jornalista, integrou a Associação Brasileira de Imprensa após 1930.
  • É patrona de cadeiras na Academia Barbacenense de Letras, na Academia Internacional de Letras e na Academia Nacional de Letras e Artes.
  • Em poesia, escreveu: Na Penumbra do Sonho (1921); Água Dormente (1925); O País sem Caminhos (1931); Entusiasmo, com três edições (1938, 1944 e 1968); Canto do Tempo Trágico (1946); Canto Solitário (1964); Sequência do Sonho (1971); As TestemunhasRimance do Tempo que Passou (1986), contendo 1361 versos.
  • Em prosa, publicou: Alma Tropical (contos – 1928); Adolpho Lutz (biografia); João Pedro de Albuquerque (biografia) e Joaquim Gonçalves Ramos (biografia).
  • É verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa.


Poesias


CARTAS DE AMOR


Quando recebo as minhas cartas cada dia,
tenho um lindo momento de alegria! 
São notícias diversas
das criaturas amigas que, dispersas
por este mundo, aos quatro ventos,
recordam-se de mim com amizade
e, para suavizar a distância e a saudade,
vêm conversar comigo alguns momentos.
E alguém me disse um dia:
“Se tens tamanho encanto
em receber cartas amigas simplesmente,
tu que te alegras tanto,
certamente
enlouquecias de alegria,
estremecias de fervor
se estas cartas comuns fossem Cartas de Amor!

E então me recordei que no lindo romance
que foi o meu amor,
tive tudo o que estava ao meu alcance,
todo o esplendor,
a beleza, a ternura, o encanto, a ânsia,
mas não tive a Distância
nem as Cartas de Amor.

E hoje que a Eterna Ausência nos separa
e que a Distância que ninguém transpôs,
como uma Via Láctea imensa e clara
se estende entre nós dois,
como seria bom se as estrelas cadentes,
riscando a noite com seu fulgor,
pequeninos correios refulgentes,
trouxessem lá do céu minhas Cartas de Amor!


Maria Sabina



CANTO DE FÉ


Creio em ti porque és bela, Minha Terra.
Nada mais lindo do que a natureza
rude e selvagem, livre e fantasista
que aos nossos olhos pasmos se descerra...
O Criador foi muito mais Artista
quando fez Minha Terra,
o refúgio do Sonho e da Beleza!

Creio em ti porque és boa, Minha Terra.
És Mãe para os teus filhos pequeninos;
fazes crescer a fronde que agasalha
e amaduras o fruto à beira do caminho...
Tu não negas o pão a quem trabalha;
entregas o ouro que o teu solo encerra;
rasgam-te o seio e, para os lavradores,
abres-te em messes, cobres-te de flores...

Creio em ti porque és grande, Minha Terra!
Florestas infindas te cobrem cerradas, espessas,
[selvagens;
montanhas, penhascos e serra
desenham recortes no céu numa estranha escalada;
enormes remoinhos e quedas, cachoeiras, voragens
misturam-se aos rios maiores do mundo num grito;
e as ilhas imensas,
e as costas extensas,
e os campos desertos,
e os pampas intérminos, vastos, abertos,
e o largo sertão infinito
proclamam-te grande na mesma soberba toada!

Creio em ti, creio em ti por tudo, Minha Terra!
Creio no teu Passado,
creio no teu Presente,
creio no teu Futuro;
no teu Passado porque foi honrado,
no teu Presente porque é corajoso,
no teu Futuro porque é promissor!
E creio em ti por causa dos teus filhos
que, na hora de luta que vivemos,
não desanimam num esforço duro,
certos que hão de vencer esta batalha!
Na porfia, na luta, na canseira,
hão de seguir teus filhos para a frente,
que Deus não desampara a quem trabalha.
Creio em ti, Minha Terra Brasileira,

e o meu Canto de Fé é o meu Canto de Amor!


Maria Sabina




IN MEMORIAM
A meu irmão


Disseram: “Chegou seu irmãozinho.”
Era tão lindo, tão pequenino!
Sentia-me grande perto dele.
Tomei-lhe a mãozinha com carinho
E pela infância, pelo destino,
andamos juntos, eu perto dele.

Ao meu lado já não caminha.
Chegado depois, partiu primeiro:
É triste o caminho da solidão...
Mas, no meu momento derradeiro,
Dir-lhe-ão: “Chegou sua irmãzinha.”
E é ele que vai tomar-me a mão.



Maria Sabina




SILÊNCIO


Silêncio... quanto mais sugeres que a palavra!
Tua eloquência estranha e persuasiva
tem tanta força em sua imprecisão!
Falas melhor de tudo quanto lavra
no recôndito da alma inquieta e viva,
perturbas muito mais o coração

Silêncio... para as almas foste feito:
tudo o que é belo ou mau no nosso peito
fala melhor se tudo se calou...
É no silêncio que melhor se pensa;
no silêncio a saudade se condensa;
sempre em silêncio é que melhor se amou.

O silêncio foi feito para a prece;
é no silêncio que a nossa alma tece
a trama singular das ilusões...
É no silêncio que melhor se chora;
é no silêncio que melhor se adora

e em silêncio se falam os corações...


Maria Sabina


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Criado em 1º de Dezembro de 2009